Reunión de bachilleres [Franz Werfel]

Reunión de bachilleres

Em “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoievski, diz o monge Zóssima, um de seus personagens mais instigantes:

“Na Terra não pode haver juiz de um criminoso sem que antes esse mesmo juiz saiba que também é tão criminoso como aquele que está à sua frente e, mais do que ninguém, talvez seja o culpado pelo crime que tem diante de si. Quando compreender isso poderá ser juiz. Isso é verdade, por mais insensato que pareça. Pois se eu mesmo fosse um justo, talvez nem houvesse um criminoso diante de mim”.

O que poderia ser visto como mera sutileza filosófica ganha contornos realistas na brilhante obra de Werfel, porque, ali, um juiz de instrução se sente realmente culpado pelo crime que tem diante de si e que precisa julgar. É que ele conhece o criminoso, estudou com ele há 25 anos e sabe que foi principalmente por atitudes suas que o pobre Franz Adler (até então um prodígio, um aluno realmente superdotado) se desencaminhou na vida.

O juiz então rememora os episódios daquela época estudantil que levaram à derrocada de Adler, fazendo dessa maneira uma espécie de “romance de deformação”, que é não apenas do criminoso, mas do próprio juiz, que ainda vive as consequências da sua culpa. Agora o juiz tem diante de si um crime atribuído a um homem que um dia foi a sua própria vítima.

Faz-se então um daqueles confrontos existenciais em que homens se encontram e revivem episódios decisivos do seu passado, à exemplo do que se vê em obras de um Sándor Márai. Mas, aqui, talvez as coisas não sejam exatamente da forma que o juiz pensa.

A história me marcou bastante, ainda vou me lembrar do juiz Sebastian e do pobre Adler. A linguagem também é muito fluida e a experiência literária é bastante agradável.

Esse é o primeiro Werfel que leio e nem é o livro mais famoso dele, mas, se todos mantiveram esse nível, posso afirmar: que escritor!

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Reunión de bachilleres, Franz Werfel
Minuscula, 2005 (espanhol)

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